segunda-feira, 11 de maio de 2009

O escritor António Jacinto Pascoal concede entrevista aos alunos do 6.º A



Foto de AJP.



António Jacinto Rebelo Pascoal (n. 1967, Coimbra).

Licenciado em Literaturas Modernas e Mestre em Literaturas e Culturas Africanas de Língua Portuguesa, pela Universidade de Coimbra. Estreou-se em 1991, com Pátria ou Amor (Prémio da Associação Académica de Coimbra, com prefácio de Agustina Bessa-Luís). Surge editado em variadíssimas antologias poéticas. É professor, dedica-se também à fotografia, à escrita, especialmente à poesia e com colaboração regular em vários jornais e revistas. Actualmente, vive em Arronches.
Publicações: Poesia – Os Dias Reunidos (1998; Prémio Nacional Guerra Junqueiro); A Contratempo (2000); Terceiro Livro (2003; Prémio Nacional Guerra Junqueiro); No Meio do Mundo (2005); As Palavras da Tribo (2005; obra distinguida pelo IPLB e Ministério da Cultura); Cello Concerto (2006). Tradução – O Canto de Todos, Antologia Poética de Violeta Parra ([Chile]; com Prefácio, Advertência, biografia, e notas, 2004). Organização – Poemas do Índico, de Jall Hussein. (2004; com prefácio e anotações); As Mulheres Visíveis, Antologia de Poemas Sobre Mulheres (VVAA) (2005; com prefácio e anotações). Pronto para publicação: Nicolás Guillén e José Craveirinha: (Uni)versos Simultâneos (ensaio); A Granada e a Rosa (poesia); Ethos (poesia); O Lugar Incerto da Besta (poesia); Dos Acasos (Poesia); A Última Condição (romance).


Entrevista realizada por escrito (via correio electrónico) pelos alunos do 6º A, da EB 2,3/S José Silvestre Ribeiro de Idanha-a-Nova, sob orientação do professor Luís Norberto Lourenço, ao escritor António Jacinto Pascoal, sobre o seu livro “As mulheres visíveis”, realizada no âmbito de actividades de “Ler Mais”:

Qual era o seu maior sonho enquanto criança?
Julgo que nunca tive nenhum, exactamente por ser criança e viver apenas «esse» tempo. Só mais tarde, na adolescência, é que pensei que poderia ser pintor.




O que o levou a escrever o livro “As mulheres visíveis”?
Este livro surgiu por inerência de factos que me «obrigavam» a falar da invisibilidade, dos desfavorecidos, dos que lutam e de certos sectores da sociedade que continuam a ser altamente lesados. A emancipação das mulheres é uma dessas questões, naturalmente.

Em que pensou quando escrevia “As mulheres visíveis”?
Em ninguém. Eu não escrevi o livro: limitei-me a ler e coligir aquilo que os outros escreveram. O que escrevi foi apenas um poema (o último), para além do prefácio que o justifica.

Ficou muito emocionado quando escrevia “As mulheres visíveis”?
Fica-se sempre emocionado com os bons poemas dos outros. Aliás, o livro é um conjunto de bons poemas. Mas a maior emoção foi vê-lo editado, como produto pronto a ser lido.

Quantos anos tinha quando escreveu “As mulheres visíveis”?
É uma questão de fazer contas. Nasci em 1967. Façam as contas. Mas já era pessoa para ter juízo.

A quem dedica os livros que escreve?
Geralmente as pessoas de família ou a amigos. Não gosto de dedicar livros a poetas ou escritores que nunca conheci, embora reconheça que essa tentação pedante me assalte.

Qual o seu tema favorito para escrever?
Os velhos e sempre actuais temas universais: o tempo (e a sua fugacidade), a morte, a vida, o amor, a justiça.

Por que é que escolheu essa imagem duma mulher nua para capa de “As mulheres visíveis”?
A capa reproduz um quadro de Piero di Cosimo, que faz parte do período áureo da pintura, que é o Renascimento. Para além da beleza universal desta imagem, interessa-me a analogia que se consegue entre a visibilidade do título e a nudez do modelo, para além do que está associado à cobra que contorna o pescoço da mulher e lhe atribui uma tonalidade trágica.



Por que é que o livro “As mulheres visíveis” é em poesia e não em prosa?


Porque é em poesia. Bom, agora a sério: a poesia é mais fácil de coligir e mais fácil de captar, em breves relances.

Por que é que fala de mulheres visíveis e não invisíveis?
Para falar das invisíveis teria de saber delas. No fundo seria como falar de tudo o que não aparece ou não se conhece. E nesse caso poderia falar também de homens. De toda essa gente que, no anonimato, faz girar o mundo.

Adorei a ideia do livro ser dedicado às mulheres. Por que é que decidiu escrever o livro de poesia sobre mulheres e não sobre os dois sexos?
Porque é necessário falar das mulheres. È imperioso falar delas. A sociedade em que vivemos, ainda que em franca mudança, está cheia de resquícios de marialvismo e machismo.

Apesar das perguntas feitas anteriormente, até gosto dos poemas, pois o seu livro é interessante e acho que os poemas não têm nada a ver com o título nem com a capa.
Talvez não se perceba bem. O título refere-se àquelas mulheres que a história tornou conhecidas, por diversos factores, melhores ou piores. Trata-se, pois, das mulheres que conseguiram, mais ou menos, fugir ao anonimato.

E agora, está a pensar ou até mesmo a escrever um livro?
Estou quase sempre a escrever novos livros, porque é raro o período em que um poema não surja. Pelo que, juntando-os, dará origem a novo livro. Depois desse, já foram editados vários.

Gosta mais de escrever livros de poesia ou de prosa?
A poesia é como o ar que respiro, portanto é-me mais fácil. A prosa é uma grande tentação. Já escrevi um romance, mas não o considero suficientemente bom para publicar. Se me perguntarem o que preferia, diria que teria mais satisfação em ter escrito boa prosa.

Dos livros que escreveu, qual é o seu favorito?
O que está por escrever. Bom, há de facto um livro, ainda não editado, que julgo ser o meu melhor. Tem um título esquisito: «Asken Afaria».

Das profissões [ocupações] que desenvolve agora, qual foi a que iniciou primeiro?
Só tenho a profissão de professor. Não sei fazer mais nada. A escrita é uma brincadeira que levo a sério.

Há quantos anos é professor?
17



Por que é que decide ser poeta?
Não se decide. Os poemas é que decidem por nós.

Por que é que quis ser professor?
Eu não quis. A realidade é que se me impôs. Preferia ser outra coisa.

Por que é que quis ser fotógrafo?
Gosto de olhar para as coisas. Sou muito contemplativo. Por vezes, acho que consigo ver até a «preto-e-branco». Habituei-me a olhar e a ver, mesmo sem compreender. Mas a fotografia ajuda-me a perceber melhor as coisas.






Agora, uma pergunta mais pessoal: já sei que tem três filhas. Costuma passar muito tempo com elas, mesmo tendo tantas ocupações?
Tento passar o tempo possível. Não há tempo que chegue para estar com elas. Todo o tempo é escasso, e o problema é que elas não voltam a ser o que são. É evidente que os ministros e deputados têm de rever o sistema, sobretudo no que diz respeito às questões do trabalho, pois a família começa ser invariavelmente prejudicada.

Que profissão queria que as suas filhas tivessem?
Elas é que têm de querer. A mim só me cabe orientar em certas direcções.






Por que é que quis três ter filhas?
Ninguém escolhe o número de filhos, a não ser que o pense muito seriamente. Poderiam ter sido quatro, ou duas. Ou dois. O número é irrelevante. Aconteceu serem três. E filhas. Foi uma sorte.

Além de ter jeito para as quatro profissões [ocupações] que desenvolve, tem jeito para mais alguma actividade, por exemplo: dançar ou cantar?


Ainda não percebi essa das quatro profissões. De resto e citando Assis Pacheco, tenho jeito para fazer versos, ou seja, nada.

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