segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Dia da Memória das Vítimas do Holocausto 27/01/1945 - 27/01/2015


 


Leia o nosso  boletim sobre o holocausto aqui


Para que ninguém se esqueça...


AUSCHWITZ
Em nome da Memória



   27 de Janeiro de 1945. O exército russo chega a Auschwitz, principal campo de extermínio nazi. Os nazis já tinham abandonado o campo quando as tropas russas chegaram. Os fornos crematórios tinham sido dinamitados para não restarem vestígios da aberração criminosa. Levaram consigo cerca de 58 mil prisioneiros, forçando-os a percorrer inúmeros quilómetros a pé, em condições desumanas. Nesta retirada, que ficou conhecida por “Marcha da morte”, morreram muitos  prisioneiros. Os que não conseguiam caminhar eram imediatamente fuzilados. Outros sucumbiram de exaustão.



No campo, ficaram nove mil prisioneiros doentes, abandonados ao frio, sem comida nem medicamentos. Os primeiros soldados russos pareciam não acreditar no que viam: esqueletos vivos que se arrastavam como sonâmbulos. O prisioneiro Primo Levi escreveu, mais tarde, na sua obra mais conhecida: “(…) a fraqueza de todos era extrema; no campo nenhum doente se curava; muitos, pelo contrário, adoeciam de pneumonia e diarreia; os que não estavam em condições de se mexer, ou não tinham a energia para o fazer, jaziam entorpecidos nas camas, rígidos pelo frio, e ninguém se apercebia do momento em que morriam.” (“Se isto é um homem”).
  
   27 de Janeiro de 2015. Foi há 70 anos. Auschwitz é hoje símbolo de um momento singular. Seres humanos foram aniquilados como se fossem objetos a destruir. Lembrar o que aconteceu e como se realizou é dever de quem está atento(a) ao que se passa à sua volta. Também é sinal de decência. O mundo em que vivemos é a confluência do passado a que chamamos história. A sombra que Auschwitz estende sobre os nossos dias só pode ser desvanecida pela memória.

                      O professor de Filosofia, Mário Raposo, escreveu este texto a nosso pedido.Obrigada.


Para que ninguém se esqueça...





              

   A Estrela de Erika


Nota da autora
Em 1995, cinquenta anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, encontrei a mulher de que fala esta história. O meu marido e eu estávamos sentados na beira de um passeio em Rothenburg, na Alemanha. Observávamos uns trabalhadores a limparem as ruínas do telhado da Câmara. Na noite anterior, um tornado tinha-se abatido sobre esta bonita aldeia medieval. Havia entulho um pouco por todo o lado. Um velho comerciante disse-nos que os estragos causados por este tornado se assemelhavam aos da última ofensiva dos Aliados durante a guerra. O comerciante entrou na sua loja, e uma senhora, sentada perto de nós, apresentou-se como sendo Erika.
Perguntou-nos se tínhamos vindo fazer turismo naquela região. Quando lhe disse que vínhamos de Jerusalém, onde passáramos duas semanas a fazer pesquisas, confessou-nos, com um suspiro, que desejava muito lá ir mas que não tinha dinheiro para a viagem. Ao ver uma estrela de David pendurada ao seu pescoço, disse-lhe que, no regresso de Israel, tínhamos passado pelo campo de concentração de Mauthausen, na Áustria. Erika confessou-nos que, um dia, tinha tentado visitar o campo de Dachau, mas que não conseguira franquear a porta.
Depois, contou-nos a sua história…
Entre 1933 e 1945, seis milhões de homens e mulheres do meu povo foram mortos. Muitos foram fuzilados. Muitos morreram de fome. Muitos foram incinerados nos fornos ou asfixiados nas câmaras de gás. Eu escapei.
Nasci em 1944.
Não sei o dia.
Não sei como me chamava ao nascer.
Não sei em que cidade nem em que país nasci.
Não sei se tive irmãos ou irmãs.
O que sei é que, apenas com alguns meses, escapei ao Holocausto.
Imagino muitas vezes como seria a vida dos membros da minha família durante as últimas semanas que passámos juntos. Imagino o meu pai e a minha mãe, despojados de todos os seus bens, forçados a abandonar a sua casa, enviados para o gueto.
Talvez depois tenhamos sido expulsos do gueto. De certeza que os meus pais tinham pressa de deixar o bairro rodeado de arame farpado para onde tinham sido relegados, de escapar ao tifo, ao excesso de pessoas, à imundície e à fome. Mas teriam alguma ideia do local para onde estavam a ser enviados? Ter-lhes-iam dito que iam para um local mais acolhedor, onde teriam comida e trabalho? Terão chegado até eles os rumores sobre os campos da morte?
Pergunto-me o que terão sentido quando os conduziram à estação, juntamente com centenas de outros judeus. Amontoados num vagão de transporte de animais. De pé, uns contra os outros, por falta de espaço. Terão entrado em pânico quando ouviram correr os ferrolhos?
De aldeia em aldeia, o comboio deve ter atravessado paisagens campestres estranhamente poupadas ao terror. Durante quantos dias ficámos naquele comboio? Quantas horas os meus pais passaram apertados um contra o outro?
Imagino que a minha mãe devia ter-me bem encostada a ela para me proteger dos maus cheiros, dos gritos, do medo, que reinavam neste vagão lotado. Tinha de certeza compreendido que não íamos para um lugar seguro.
Pergunto-me onde estaria exactamente. No meio do vagão? O meu pai estaria junto dela? Ter-lhe-á dito que fosse corajosa? Terão falado do que iam fazer?
Quando teriam tomado aquela decisão? Será que a minha mãe disse “Desculpa. Desculpa. Desculpa.”? Terá aberto a custo um caminho por entre aquela mole humana até à janela do vagão? Terá murmurado o meu nome ao embrulhar-me num cobertor bem quente? Terá coberto a minha cara de beijos e dito que me amava? Terá chorado? Rezado?
Logo que o comboio abrandou, ao atravessar uma aldeia, a minha mãe deve ter espreitado pela fresta do vagão. Ajudada pelo meu pai, deve ter afastado o arame farpado que ocultava a abertura. Deve ter esticado os braços para a luz pálida do dia. A única coisa que sei com certeza foi o que aconteceu a seguir.
A minha mãe atirou-me pela janela do comboio.
Atirou-me para cima de um pequeno quadrado de relva, junto de uma passagem de nível. Havia pessoas à espera de que o comboio passasse; viram-me cair do vagão de carga. No caminho que conduzia à morte, a minha mãe lançou-me à vida.
Alguém pegou em mim e levou-me para casa de uma mulher que se ocupou de mim. Que arriscou a vida por mim. Calculou a minha idade e atribuiu-me uma data de nascimento. Decidiu que me chamaria Erika. Deu-me um lar. Alimentou-me, vestiu-me, mandou me à escola. Fez tudo por mim.
Casei aos vinte e um anos com um homem maravilhoso. Ele aliviou muita da tristeza que me assaltava com frequência, percebeu o meu desejo de pertencer a uma família. Tivemos três filhos, que hoje têm os seus filhos também. No rosto deles, reconheço o meu.
Dizia-se outrora que o meu povo seria um dia tão numeroso como as estrelas do céu. Entre 1933 e 1945 caíram seis milhões de estrelas do céu. Cada uma delas corresponde a um membro do meu povo, cuja vida foi rasgada, cuja árvore genealógica foi arrancada.
A minha árvore lançou raízes.
A minha estrela ainda brilha.
Ruth Vander Zej ;Roberto Innocenti
L’étoile d’Erika
Toulouse, Milan Jeunesse, 2003
CRONOLOGIA DO HOLOCAUSTO



Trabalho da Biblioteca Escolar de Castro Daire

Dia Internacional em Memória do Holocausto


«Dia Internacional em Memória do Holocausto - Aprender com o Passado, Ensinar para o Futuro. 
webinar que constitui uma iniciativa de evocação do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto que anualmente se comemora no dia 27 de janeiro, convidando as escolas a associar-se a esta evocação. Aborda o seu significado e atualidade, bem como a importância do seu ensino. Neste contexto, são apresentadas sugestões de acesso a informação atualizada e a novos recursos didáticos, como contributos de apoio ao ensino do Holocausto, tema obrigatório expresso nos programas e metas curriculares de diversas disciplinas do currículo dos ensinos básico e secundário, em especial na disciplina de História, no sentido de permitir aos nossos alunos uma aquisição de saberes significativos e o desenvolvimento de capacidades e atitudes de responsabilidade, de respeito e de tolerância no quadro dos Direitos Humanos. Owebinar apresenta, ainda, a Memoshoá - Associação Memória e Ensino do Holocausto, destacando os seus objetivos, atividades desenvolvidas e projetos em curso.»




ver artigo do ano passado aqui 

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